Resenha: Conto dos esquecidos e outras histórias - Túlio Augusto Lobo

Livro: Conto dos esquecidos e outras histórias

Autor: Túlio Augusto Lobo

Editora: Dialética

Páginas: 164

Nota:⭐⭐⭐⭐⭐

Sinopse

O conto dos esquecidos e outras histórias é o resultado de uma mente inquieta e observadora e traz uma escrita clara, ritmada, generosa, despretensiosa e, nem por isso, descuidada.

O livro é dividido em 5 partes. Em cada uma das partes há uma condução clara da observação do autor. Na primeira parte, Memórias do mundo, ele dirige seu olhar e sua criatividade para eventos históricos, contando de forma alegórica histórias sobre a escravidão, a Revolução Industrial e o nascimento do capitalismo, a ditadura militar e outros. Em Olhar antropológico, as histórias se voltam para os assuntos humanos em diversos aspectos, como a negligência familiar, a defesa da vida humana, o abuso da tecnologia e mais. Na terceira parte, Memórias recentes, o objeto fictício são as situações mais recentes vivenciadas, mais especificamente no contexto brasileiro. Uns e outros é a parte mais leve em termos de temas, visto que se pauta em situações mais humorísticas, como o encontro de Darth Vader e Don Corleone. E a quinta parte, Epílogo, traz textos mais intimistas que permitem compreender melhor, de modo indireto, o autor do livro.

Os textos são rápidos, pontuais, fazem uso de metáforas, alegorias, alusões e outras figuras para contar histórias que divertem e fazem pensar. Além disso, o livro traz ilustrações que foram idealizadas pelo próprio autor e indispensáveis ao projeto da obra. Tudo isso faz desse livro uma obra cujo potencial vai do incentivo à formação do leitor e uso em sala de aula – em áreas diferentes – até a discussão acadêmica.

Minha opinião

"Conto dos esquecidos e outras histórias" é um livro atual e cheio de críticas ferozes à nossa sociedade, nele Túlio não mede as palavras para nos dar seu olhar do que está com acontecendo com o mundo e com a sociedade. O livro é dividido em quatro partes e vou falar de cada uma separadamente.

A primeira parte do livro carrega o nome de "Memórias do Mundo" e nessa parte Túlio faz uma análise sobre o que o ser humano está fazendo com o seu lar e também como o ser humano trata o outro, usando analogias de extrema inteligência o autor critica o uso excessivo de celulares, mostra como a ganância do ser humano pode ser nociva para o mundo em que vivemos e para nós mesmos que o habita, também temos textos sobre o capitalismo selvagem. Nessa primeira parte do livro o texto que pra mim mais se destacou foi "Tuca tentou avisar" que claramente faz alusão a quando os portugueses chegaram no Brasil e levaram todas as riquezas dos índios. Outro ótimo texto é o "Meu avô e a dentadura militar" que com um humor debochado e inteligente satiriza pessoas que apoiam a ditadura.

"A partir de então, todos tinham uma diversidade de coisas inúteis que jamais sonharam em ter em suas casas e quanto mais trabalhavam para tê-las, mas eles queriam."

Se na primeira parte Túlio mostra como o ser humano negligência a Terra, nessa segunda parte que leva o nome de "Olhar antropológico" ele mostra com seus textos como o ser humano negligência os seus semelhantes, ele mostra com sutileza, porém de forma nos faz refletir como as crianças hoje em dia vivem abandonas por pais que só se preocupam em os colocar no mundo, mas não em dar atenção. Também temos o contrário, como idosos que são abandonados de forma cruel por seus parentes mais jovens. No texto "O que você faria?" Túlio nos traz uma grande reflexão sobre o tempo que dedicamos ou deixamos de dedicar as pessoas amadas, e que após o término desse texto me fez refletir muito. Enfim, essa parte nós mostra como as relações hoje em dia são líquidas.

"Mas também a guerra e suas tragédias deixem aprendizados diferentes para todas as espécies que participam dela, uns aprendem a não cometer os mesmos erros e, outros, a repeti-los."

Na terceira parte, chamada "Memórias recentes", Túlio já começa dando um tapa na nossa cara com o conto de abertura, onde narra um mundo utópico, onde nenhum político é corrupto, onde o dízimo da igreja é utilizado para ajudar os necessitados, onde não existe o famoso "jeitinho brasileiro", mas isso é só um conto. Nessa terceira parte vemos claramente críticas a política atual, o autor faz uma rápida análise de como as pessoas negligenciam o voto e como alguns políticos chegam ao governo sem nenhum bom plano de governo.

A quarta e última parte intitulada "Uns e outros" é a mais leve e descontraída, nela o autor fazer uma brincadeira com palavras do nosso cotidiano e no conto "Ditados populares" faz uma análise ao pé da letra com ditados populares que temos, o que me fez dar boas risadas, uma dessas análises ao pé da letra é do ditado "cão que ladra não morde" onde o narrador diz que na rua onde ele mora tem um pitbull que late muito, mas que não pensaria duas vezes antes de arrancar um pedaço dele.

" … Os sentimentos que possuo são uns língua que ninguém entende, fazem ruído que ninguém quer ouvir, afinal, os sentimentos são complicados e se tornam mais complicados na medida em que envelhecemos…"

Temos ainda o epílogo, que não é menos importante, mas vou deixar como uma surpresa que você terá que ler o livro para descobrir.

"Conto dos esquecidos e outras histórias" é a voz do professor de história que quer que as pessoas vejam as coisas como ele vê, as ilustrações trabalham para ajudar o leitor a ter maior compreensão da mensagem que o escritor quer passar. Cuidado, esse livro tem altas doses de realidade sobre o nossa atual sociedade. Leia sem moderação.

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Por Priscila Biancardi