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Resenha: Antologia Vozes Negras - Amanda Condasi, Flor, Priscila, Isa Souza, Maria Ferreira e Pétala Souza, ilustrada por Limão

Livro: Vozes Negras
Autoras: Amanda Condasi; Flor, Priscila;
Isa Souza; Maria Ferreira; Pétala Souza
  Editora: Se Liga Editorial
Páginas: 161
Nota: 
📚Livro lido na #MLI2020 #BKTBTN


Sinopse

"Vozes Negras" é um livro que se faz resistência. Um grito de liberdade de mulheres duplamente silenciadas (pelo gênero e pela cor) que reivindicam seu protagonismo e ampliam suas vozes pela escrita. Através de ilustrações da Limão e quatro histórias de ficção, as autoras Amanda Condasi, Flor, Priscila, Isa Souza, Maria Ferreira e Pétala Souza narram a trajetória de personagens em busca de seus sonhos e de se verem representadas.


Minha opinião

Eu tomei conhecimento desse livro depois dele ter ficado gratuito na época das hashtags Black lives matter (Vidas negras importam). Uma amiga compartilhou dizendo que ficou entre os mais adquiridos. Eu a conheço como Angélica Menchini ou Lica, mas ela é popularmente conhecida como Limão, a ilustradora desse livro.

Fiquei chateada por não ter visto o anúncio de quando estava gratuito para poder divulgar porque vez ou outra eu estou exaltando o trabalho lindíssimo da Limão, mas fui lá e adquiri o meu para dar aquele apoio e vocês não sabem o quanto fiquei surpresa com essa antologia.

Primeiramente é inevitável não falar um pouco de mim antes de falar propriamente do livro. Essa na montagem de foto com cabelos coloridos sou eu, prazer. Vocês já me viram por aí mas não me conheceram no auge dos cabelos coloridos. Tá, mas o que isso tem a ver, Amanda?

Uma das primeiras vezes que pintei meu cabelo com uma cor fantasia foi lá pelos meus 17 anos. Só as pontinhas de azul. E assim que cheguei no cursinho pré-vestibular eu ouvi que aquilo era coisa para cabelo liso e por vezes eu ouvia elogios ao meu cabelo somente quando o alisava. E com isso acabei fazendo alguns procedimentos para alisamento no cabelo até cansar e deixá-lo como ele realmente é.

Eu achei que tudo isso tinha ficado no passado. Eu sinto muito orgulho do meu cabelo e vibro quando alguém diz que está em transição capilar, mas dia desses conversando com meu namorado eu falei que talvez não me adaptaria em países asiáticos porque talvez ficariam olhando pra mim por causa da cor e do cabelo que difere muito deles e me sentiria incomodada como me senti na adolescência. E foi ali que eu percebi que eu tinha mais cicatrizes no meu modo de pensar que eu imaginava.

E onde entra o livro e a resenha nisso? Bem, esse livro revirou tantos sentimentos de mim e virou uma indicação mais que necessária para todos. Porque para quem passa por coisas semelhantes é um prato cheio de representatividade e você sentir que não está sozinho (a) e para quem não passa refletir sobre as atitudes que toma.

"É urgente que a gente aceite e celebre essas histórias que são tão ricas e dão às mulheres negras, principalmente jovens e crianças, a possibilidade de ser quem elas querem ser."
Trecho do prefácio por Ana Rosa

O livro começa com o conto "Coincidências" da autora Maria Ferreira e não consigo pensar em outra expressão para colocar aqui, mas olha, que tapa na cara eu tomei lendo esse conto. Porque eu posso já ter me sentido deslocada em relacionamentos por diferenças econômicas, mas nunca pela cor da pele, e ver todas aquelas palavras ali me deixaram muito mal em saber que na verdade aquilo ali não é somente ficção, e certamente acontece e muito na vida real.

"Naquele momento, percebi o motivo de Pedro ter me abandonado. Foi como uma epifania. A grande ficha caiu. E eu poderia culpá-lo?"

O segundo conto se chama "Carimbos e Memórias" e é da autora Flor, Priscila que se inspirou em nada mais, nada menos que a maravilhosa jornalista Glória Maria. E como eu me emocionei nesse conto, gente, pois se hoje em dia as coisas já são bem difíceis, imagina quando não tínhamos uma única jornalista negra na TV como inspiração? Lindo e extremamente sensível.

"O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora. Quem passa fome aprende a pensar no próximo, e nas crianças."

"Não existem sinônimos suficientes para futuro" de Isa Souza e Pétala Souza é um conto de distopia, algo que eu não esperava encontrar no livro. Embora seja uma distopia sustentada por uma mentira sobre um vírus, ela tem muitos elementos reais: A segregação, a falta de representatividade nos jovens ditos como "o futuro", nas diferenças econômicas e visuais das diferentes zonas e o poder do povo unido para vencer isso. Um conto muito rico de detalhes, aprendizado e com referências a mulheres negras.

"A verdade é correnteza, arranca das profundezas e traz a superfície até os pensamentos e sentimentos que jamais deixamos emergir."

"Na ponta dos sonhos" da autora Amanda Condasi é possivelmente um dos mais emocionantes. Não sei se por identificação pela origem humilde e a luta dos pais para veem a protagonista vencer, mas me vi com os olhos cheios de lágrimas lendo. Nele, conhecemos o trajeto de Dandara para se tornar bailarina depois de na infância encontrar uma sapatilha de balé garimpando o lixão com a mãe. A partir desse singelo encontro com aquela sapatilha, o balé se torna um sonho e não vai ser nada fácil realizá-lo.

"A maioria das fotos é de mulheres e homens negros dançando e o que achei curioso são suas sapatilhas, todas pintadas do tom de pele de cada um."

Eu recomendo demais que todos leiam esse livro, até para enxergar o mundo com outros olhos. Além dos contos que me tocaram profundamente, as ilustrações da Limão arrematam tudo de uma forma incrível e por mais que eu seja suspeita por ser fã do trabalho dela, vocês podem ver que eu tenho razões para vangloriar esse trabalho pela ilustração na capa do livro e a de "Vidas Negras importam" que coloquei na foto apenas para dar um gostinho.

Ah! E haverá um evento online no canal do YouTube do Se liga Editorial para o lançamento virtual do livro com as autoras, a ilustradora e mediação de Thati Machado no dia 04/07 às 20h.

Você pode adquirir o livro aqui. É apenas R$9,99 para comprar e o aprendizado é imensurável, mas caso você tenha Kindle Unlimited, ele é gratuito.

Por Amanda Rocha

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14 comentários:

  1. Esse livro deveria ser usado como paradidático nas escolas. É tão necessário! Post sem defeito nenhum ❤❤❤❤❤

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  2. Também comprei esse livro na época que ficou gratuito. Outro que adquiri foi "Por que eu não converso mais com pessoas brancas sobre raça". Quero tirar um mês só para ler esses dois livros e mais um que tenho na estante. É tão importante abrir cada vez mais espaço para obras assim!
    Amei sua resenha, e as quotes que você selecionou me deixaram ainda mais curiosa pela leitura. Ah, e seu cabelo é lindo em qualquer cor que seja <3

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    1. Olha, não conhecia esse que você indicou, vou colocar na lista também. Doida para acompanhar esses seus posts. Muito obrigada, viu? <3

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  3. Que indicação importante! Não conhecia a obra, infelizmente não vi quando estava disponível gratuitamente, mas não faz mal, pretendo também adquirir para dar apoio, assim como você. E pela sua descrição, os contos parecem ser cheios de sensibilidade e mais que isso de realidade, de histórias que precisam ser contadas.

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    1. É como eu disse: é um valor bem baixo para um aprendizado imensurável! Espero que te emocione tanto quanto me emocionou.

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  4. Muito boa a indicação. É necessário ler sobre as questões raciais, ouvir, debater, aprender, pois, mesmo sem querer, muitas vezes acabamos sendo racistas, o racismo é estrutural infelizmente, mas isso não é desculpa ou passada de pano, nada justifica a inércia, o sistema precisa ser mudado para ontem.

    Abraços!

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  5. Estou a trabalhar em um livro de poesias de uma mulher (linda) e preta e aprendi tanto. Eu tento não repetir frases prontas, me libertar de certas idéias que estão por aí e a gente leva junto porque somos todos pessoas e as diferenças é o que temos de melhor.
    É a segunda vez que leio um relato a respeito da dificuldade em lidar com o próprio cabelo. Eu fiquei tão sem chão no dia em que uma menina linda de dezenove anos chorou ao contar que alisava o cabelo por imposição, desde os oito anos para não passar vergonha na escola. O cablo dela é lindo, incrível (está em transição) mas como você, ela ainda tinha muitos traumas a resolver.
    Grazie pela dica, é sempre muito ouvir as pessoas e saber como se sentem para que a gente possa aprender. Desde que todo esse movimento começou é que eu digo as pessoas, precisamos ouvir para compreender o que é dor e como não seguir agindo feito zumbis.

    bacio

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    1. Infelizmente é uma realidade cruel e bastante recorrente, Lunna.
      Espero que aprenda bastante nesse momento de pesquisa para sua personagem.

      Bacio

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  6. Estou com o livro a espera de leitura... Adorei sua resenha...
    Um assunto que ainda é polêmico e pouco discutido e muito falado.
    Abraços

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  7. Muito interessante. Adoraria ler, que pena que passou a promoção, mas vale pagar o valor do livro, né? Adoro poesia e pela cala as ilustrações devem estar muito bonitas!

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    1. Vale demais! Mas não é de poesia não, são gêneros bem variados como eu disse, tem até distopia.

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